Canibalismo


Várias espécies animais praticam canibalismo. Leões comem os filhotes de outros machos quando se tornam o rei do bando. Algumas aranhas, caracóis e besouros produzem ovos apenas para consumo alimentar. Após o nascimento da ninhada os filhotes comem esses ovos. Alguns animais, como o tubarão cinza, comem os menos desenvolvidos. Nesse caso é ainda na fase embrionária, com o menos desenvolvido devorado.  A aranha-negra e o louva-a-deus devoram os machos após a relação sexual.

No caso humano o termo mais correto seria antropofagia. Canibalismo vem do espanhol caribal, membro do povo Caribe. Os nativos das Antilhas praticavam antropofagia e os europeus ficaram chocados com isso. Além do nome canibal ser hoje considerado politicamente incorreto, oficialmente o canibal pratica o ato predatório enquanto o antropófago faz por rituais religiosos. Quando pessoas matam outras pra comer ocorre o canibalismo. Ou quando comem aqueles que morreram naturalmente por estarem com fome ou não quererem desperdiçar comigo. A antropofagia ocorria em várias partes do mundo. Em Fiji havia talheres especiais para a ocasião, não sendo usados para comer nenhum outro tipo de alimento. Os anasazi, dos EUA, assavam crânios para comer os cérebros. Os da Ilha Bau, no Pacífico, colocavam pedras quentes no corpo para que assassem por inteiro.

O canibalismo causa vários problemas, sendo o mais evidente a diminuição dos genes. Doenças também surgem, como o Kuru, doença parasitária que quase levou à extinção o povo Fore, de Papua Nova Guiné. No fim do século XX o ritual ainda era praticado naquele país. Rituais antropofágicos foram encontrados nas Américas, África e Oceania.  Mas foi no Brasil que os rituais foram mais estudados. Ainda é praticado pelos ianomâmis, que queimam seus mortos e os transformam em cinzas comidas com bananas. Acreditam que seja saudável, já que colocar cinzas em plantas as faz crescer melhor.


No Brasil havia muitas tribos antropófagas, mas não eram todas. Os Goytacazes foram um exemplo dos predadores canibais porque consumiam carne humana da mesma maneira que faziam com qualquer animal assim como outras tribos. Outras tribos também achavam um desperdício não comer algo facilmente disponível. Mas preferiam outros índios pois os brancos tinham uma carne mais azeda segundo eles. Os tupinambás são o melhor exemplo nacional da antropofagia. As guerras tinham como objetivo capturar índios inimigos para serem comidos. Era considerado uma honra acabar na barriga dos rivais. Acreditavam que poderiam obter as qualidades dos devorados pela prática. Por isso que se considera que apenas os valiosos poderiam ser comidos. O vídeo acima, do canal Buenas Ideias, mostra a história de Hans Staden. Ele conseguiu fugir por ser covarde. E dele temos os melhores relatos sobre o ritual antropofágico

Os corpos eram todos esfregados para toda a pele sair . A cabeça era entregue ao carrasco e as vísceras dadas para as mulheres. Os bebês bebiam o sangue colocado nos seios das que os amamentavam. Bebiam também caulim, uma espécie de vinho de mandioca. No dia seguinte faziam um caldo com o restante. Comiam, dançavam e bebiam até que acabasse toda a carne. Essa era a prática dos tupinambás.

Algumas tribos davam uma esposa para o prisioneiro. Algumas devoravam os filhos nascidos, outros ao nascer se o pai fosse comido antes. Outras esperavam crescer e ainda outras desprezavam a criança. E ainda havia as que valorizavam mais que as outras, os tratando como pessoas especiais. Os da região de Recife comiam fetos abortados. As mães comiam a placenta e cordão umbilical cozidos daqueles que nascessem bem e comiam sozinhas os filhos que morressem. Os parentes eram assados e devorados por todos, com os ossos guardados para serem moídos e ingeridos. Mais sobre o banquete antropofágico no vídeo abaixo.


Os astecas praticavam antropofagia com escravos ou vítimas oferecidas. Coxas eram enviadas às autoridades. Vísceras para os animais do imperador. Argumentam modernamente que o motivo foi a falta de grandes animais para produzirem proteínas. Porém, havia na região onças, cachorros, tartarugas, peixes, perus, capivaras e cobras. Não há necessidade alimentar da antropofagia. Também havia o sacrifício humano, em que se tirava o coração ainda pulsante dos sacrificados. Mas não há muitos registros dos fatos.

Qual é o gosto de carne humana? Parecido com porco, mas um pouco mais adocicado. Ao menos foi o que disse um time de rugby do Uruguai que caiu nos Andes em 1972. Acabou a comida e para sobreviver comeram os colegas de time que morreram. A antropofagia hoje é um tabu e em quase todos os casos que se observa isso há problemas psiquiátricos e compulsões sexuais. Mas em muitos casos de fome extremas as pessoas recorreram a isso, inclusive sendo uma prática no século XIX quando ocorriam naufrágios. Então em um grande caso de fome, esse tabu pode ser quebrado. Esperamos que não aconteça mais.

Comentários

  1. A lição é aprender do Hans Staden. Como diria o protagonista de Match Point: "Melhor ter sorte do que ser bom."
    Ótimo artigo!

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