Quanto vale uma vida? E um ano de vida?
Aos 23 anos Rafael sofreu uma trombose. Ainda não sabia, mas era portador de HPN, um tipo de anemia crônica causada pela decomposição excessivamente rápida dos glóbulos vermelhos. Seu intestino necrosou e vinte e um centímetros tiveram que ser retirados. Não se esperava que alguém nessa condição pudesse ter uma vida normal, mas Rafael leva. A única cura é o transplante de medula. Mas ele causa sequelas graves ou morte em 30% dos casos. Ele não precisou passar por isso graças ao tratamento público de saúde do Brasil, o SUS. O tratamento custa 800 mil reais por ano. Em cinco anos 4 milhões. E mesmo sem estar curado, tem uma vida comum, jogando bola e vivendo bem.
A chance de encontrar um doador de medula é uma em cem mil. Usualmente se faz o transplante com pais ou irmãos porque 50% de compatibilidade é o suficiente. Rafael não fez o teste em seus parentes e sequer procurou doadores. Assim que foi diagnosticado foi encontrado por um advogado de uma ONG que pediu apenas cinco mil reais e conseguiu esse tratamento de primeiro mundo. Um mês do remédio usado no tratamento pra HPN, o Soliris, custa 70 mil, mais caro que um transplante de medula de um parente e equivalente ao valor médio de um transplante de um desconhecido.
O estado de São Paulo gastava 700 milhões por mês com apenas 25 mil pessoas em 2012. Os que 40 milhões de paulistas custaram o mesmo valor mensal, com a simples diferença que não entraram na justiça pedindo tratamento especial. 90% do orçamento no estado de São Paulo em 2017 foi para quem entrou na justiça. Não pedem apenas Soliris, mas água de coco, farinha láctea, sabonete bactericida e leites especiais. Eles devem receber um tratamento que eles não escolheriam pagariam do próprio bolso apenas porque um advogado os encontrou? Esses pacientes impedem que outras pessoas sejam salvas. Afinal, o dinheiro do SUS não é infinito. Rafael trabalha em uma empresa de geoprocessamento e seu salário é muito inferior a 70 mil. Se fosse do seu próprio bolso, já teria feito os exames pro transplante torcendo para se curar.
Remédios mais caros do Brasil. Fonte: Folha de São Paulo |
A OMS considera que se o gasto para um ano a mais de vida for acima de três vezes o PIB per capita daquele país o custo do tratamento deve ser reduzido. No Brasil é de cerca de 100 mil reais. Vários tratamentos são mais caros que isso e apenas paliativos. O Sutent custa cerca de 30 mil por mês. Funciona para para câncer renal em metástase . Aumenta a expectativa de vida média dos pacientes de um para dois anos. A família pagaria quase um carro zero quilômetro por mês para que o paciente viva por dois anos em vez de um ano só? E se a qualidade de vida fosse inferior? Os pais aceitariam trocar a casa em que seus filhos poderiam passar a vida para ficar um ano a mais com eles? Com 360 mil uma família começa muito bem sua vida, pode-se comprar uma franquia, montar sua própria empresa, uma casa e seguir muito bem a vida. Esse valor para as famílias de classe B,C e D é o bastante para tudo isso.
Criar um filho custa em média 60 mil reais até os 18 anos anos para classe D. Apenas dois meses de Sutent é o bastante para que uma família de baixa renda mantenha um filho até a fase adulta. Para classe média, um mês de tratamento é o bastante para mais de um ano. As classes C e D são exatamente as que mais precisam do SUS. Os pacientes com câncer terminal muitas vezes dizem não terem qualidade nenhuma de vida e que não estão vivendo, apenas aumentando o processo da morte. E ainda lamentam que é dessa maneira que muitas famílias se lembrarão deles, não dos bons momentos.
Parece desumano colocar um preço numa vida ou até em um ano de vida. Mas muitas pessoas venderiam um ano de vida tranquilamente. Em 2012 fizeram uma pesquisa na Alemanha e perguntaram "trocaria um ano de vida por um milhão de euros?". Mais de um em cada quatro homens e um em cada seis mulheres trocariam. Os jovens aceitam mais, com 29% entres os de 14 a 29 anos e 11% entre os com mais de 60 anos. E você, trocaria? Um milhão de euros é cerca de cinco milhões de reais. Há porém remédios mais caros. Um para Atrofia Muscular Espinhal custa mais de 8 milhões de reais a dose. 90% dos que a possuem morrem com menos de dois anos. Esse remédio promete a cura completa. Quanto acham que vale um ano de vida? E com tantos questionamentos acima, comentem quais acham as respostas mais justas.
Nota: Classe A,B,C,D,E são respectivamente Alta,Média Alta, Média, Média Baixa e Baixa.
Man, eu não trocaria um ano de vida por dinheiro. Sei que ambos acabam uma hora ou outra, mas ainda sim prefiro a vida. Do que adianta ter dinheiro e não poder gastar? O artigo ficou bom.
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