Racismo: Por que quase toda sociedade tem?


Os Estados Unidos conseguiram um feito incrível, fazer com que as pessoas deixassem a pandemia de lado. O assunto se tornou o racismo, após mais uma morte de um negro por um policial branco. Questões assim muitas vezes geram mais perguntas do que respostas, mas daremos algumas agora.

É da natureza humana a separação entre nós e eles. Segundo os evolucionistas, se não andássemos em grupos teríamos sido extintos há muito tempo. Como saber quem pode atacar ou não? Simples, se for diferente, ataque primeiro. Os grupos pré-históricos nunca eram maiores do que cinquenta por esse motivo. É impossível saber detalhes sobre os outros em grupos maiores do que isso. Coisas como, quem está doente, quem está com mais ou menos comida e quem está machucado. Uma pessoa nova era vista como uma ameaça. Somos seres gregários e as pessoas facilmente se colocam em grupos. Daí vem tantas polarizações.

A Copa do Mundo e Olimpíadas diminuem o número de suicídios. Sentir que pertence a um grupo faz com que muitos sentem que tem quem possa ajudar em horas difíceis. Mas sabemos que todas as fronteiras são arbitrárias. As fronteiras do Brasil foram quase todas resultado do trabalho diplomático do Barão do Rio Branco. A FGV perguntou como o brasileiro se vê e são sofredores, trabalhadores, alegres, conformados, solidários e pacíficos. Só coisas boas, exceto sofrer, que ainda é por pressão externa. Outra separação, por algo bem arbitrário. Isso tem o nome de nacionalismo ou orgulho nacional. Os estrangeiros nos veem como seres da praia, que sambam e jogam futebol todo dia. Além de comer feijoada e ser escuro (por ser negro ou bronzeado de praia) e morar no Rio de Janeiro. Ficam chocados por um brasileiro não ser o melhor jogador da turma, por ser branco ou não sorrir o tempo inteiro e ter bumbum grande (para garantir que crianças possam ler esse post). Muitos até pensam que somos bons de briga, pela capoeira e jiu-jistu. Nada de ruim nisso tudo, mas já se nota como colocar um rótulo deixa quase todos incomodados, não é?

Diferenças econômicas entre negros e não negros
  
O racismo é algo próximo, mas um tanto diferente. Acreditar que cada pessoa é o que é por conta de sua raça. Brasileiro não é raça, mas para muitos latino é. O próprio conceito de raça é algo complicado. Não somos como os cachorros. A diferença entre um dogue alemão e um poodle são o bastante para que em muitos casos sequer seja possível que eles tenham filhos. Não ocorre isso entre humanos. Nada impede que negros tenham filhos com coreanos e poloneses. O nome científico dos humanos é Homo Sapiens Sapiens. Então os humanos por definição já são uma raça, a raça humana.  

Por que então nos diferenciamos tanto? Cultura. Ninguém nasce aprendendo que o outro é inferior ou diferente. Aprendemos isso. Judeus e árabes são o mesmo povo geneticamente e culturalmente. A Bíblia diz que judeus vem de Abraão pelo seu filho Isaque e o Alcorão diz que árabes vem de Ismael, outro filho. Os africanos que chegavam aqui não tinham como usar seu idioma original e eram obrigados a aprender o português. Os registros deles, quando existiam, foram todos queimados no final do século XIX. Enquanto os descendentes de europeus no Brasil falam que são italianos, alemães e portugueses, os negros só falam africanos. A diferença genética entre dois negros é maior do que a que existe entre coreanos e poloneses. Então não existiria apenas uma raça negra, mas várias. Talvez se ainda houvesse registros dos que escravos que chegaram a situação fosse diferente. Porém, aprendemos a nos separar pela cor de pele e suas grandes graduações. Todo censo pergunta raça. E passamos a encarar o outro como diferente. 

No Brasil a autodeclaração define se a pessoa é negra ou não. Felipe Neto cobrou uma atitude de Neymar contra o racismo por ele ser negro. Mas Neymar não se considera assim, então não é. Mas os grupos pró-negros disseram que um branco não pode se envolver em assuntos de negros. O que oficialmente também é racismo, por dizer que apenas negros tem o direito de falar sobre racismo. Racismo é acreditar que uma raça específica tem direito exclusivo. E não envolve apenas negros. Todo oriental é bom de matemática, luta artes marciais e é budista? Brancos não podem ser sambistas ? Por que ainda aceitamos que indígenas sejam descritos em livros escolares como preguiçosos? E por que ninguém se queixa do filme de basquete Homens Brancos Não Sabem Enterrar mas todos se queixariam de Homens Negros Não Sabem Nadar? Aqui uma nota, já houve brancos vencendo campeonatos de enterradas na NBA, mas nenhum negro foi campeão olímpico na natação. 
  

Uma experiência com bonecas mostra que crianças de 3 anos já sabem claramente diferencia negras de brancas, mas se recusam a se aceitarem como negras. Por que elas precisam se aceitar? Porque são ensinadas que tem algo diferente com elas. Ou até errado. O fato de termos que nos diferenciar constantemente talvez cause dificuldades aos próprios negros. O quadrinho acima mostra um ponto. A mulher do desenho foi confundida com uma faxineira por ser negra ou por não estar muito arrumada? Se estivesse com roupa social e salto alto não haveria essa confusão. E seria impossível outra negra a confundir? Por que a loira na charge tem que ser arrogante em vez de simplesmente perguntar se é a faxineira? As loiras se incomodam de serem vistas constantemente como pessoas fúteis. Porém, loiros não são uma raça, o que desconfigura racismo. Porém, se não houvesse essa diferenciação, talvez não houvesse um certo vitimismo negro.

Pode parecer loucura falar em vitimismo negro já que eles são a mais presos e sofrem quatro vezes mais violência policial do que brancos. Mas as vezes se perde a oportunidade de notar que o problema muitas vezes é outra questão. Nem todos que nos recusam emprego são racistas. Talvez só seja a questão social. A escravidão foi horrível e em média leva nove gerações para alguém ir da Classe E para a Classe A no Brasil. O dinheiro e a instrução dos pais faz muitas diferenças para o nível econômico e escolar dos filhos. Mas, as oportunidades hoje são próximas ao igual para negros e brancos. Não temos escolas diferentes ou transporte escolar diferente, como foi no Apartheid ou nos Estados Unidos até a década de 60. Se notar o gráfico acima, notará que a proporção de pessoas negras entre os de baixa renda, dependentes do Sus, presas e sem acesso ao ensino superior são bem parecidas. O que mostra que o fator econômico está muito envolvido na situação também. Em parte por isso há cotas para negros em faculdades e em concursos públicos. 

Judeus foram escravizados durante a Segunda Guerra Mundial. E fundaram um país sem água ou qualquer mineral interessante e que hoje possui mais empresas de tecnologia do que qualquer outra região do mundo. Isso em apenas setenta anos. Também venceram um quarto dos prêmio Nobel do mundo. São tão vítimas de racismo quanto negros, tanto que houve vários pogrons durante séculos na Europa. Ainda no século XX houve muitas cotas proibindo judeus de entrarem em faculdades na Europa. Porém, eles se esforçaram em buscar muito mais melhorarem a sua vida do que só e simplesmente se verem como vítimas de preconceito, o que eles são. O Brasil era antissemita até 1945 e muitos judeus foram expulsos de quase todos os locais que imaginar, incluindo a Etiópia. Mas, eles acabaram sendo mais aceitos. Porque se tornaram ricos. Se negros estivessem financeiramente em uma posição melhor a situação seria diferente? E sim, podemos saber quem são os judeus apenas olhando.

Enfim, por que quase toda sociedade tem racismo? Porque somos ensinados a nos separarmos em grupos e nos vermos como sendo diferentes. Alguns se enxergam como vítimas, outros como superiores. Alguns pensam que não deveríamos nos rotular. Uma pena que haja no mundo opiniões diferentes para nos odiarmos, mas não o suficiente para nos amarmos. (No sentido de importar e se preocupar.)

Comentários

  1. Caramba, man. Artigo forte. Porém, esse é o preço da verdade; tem que ser forte. Ótimas expressões.

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