Por que tanto material de qualidade não faz sucesso mas outros de nível inferior fazem? Por que tantas pessoas ignoram a ciência?
Chico Anísio disse que se sentia muito melhor no teatro do que na televisão. Fazer novas esquetes toda semana, se entender com outros colegas e criar linearidade exigia muito dele. Mas no teatro tudo era feito só uma vez. Tudo que gerasse mais risadas era repetido na outra semana e novas piadas poderiam sempre ser testadas. O público sempre mudava. Na TV o público era sempre o mesmo.
Youtubers ganham por cliques. Estão num meio que misturam os dois. Há aqueles fieis, que acompanham tudo o que for feito por eles. Outros nem tanto, apesar de estarem inscritos no canal não veem tudo, apenas o que acham mais interessante. Já outros assistem apenas algo que acham muito interessante. Mas como chamar a atenção no meio? Simplesmente fazendo algo novo. Banho de Nutella, atirar coisas nos outros, fazer slimes gigantes foram coisas originais. Muito mais original do que ver a entrevista do Chico Anísio....
A busca por algo novo é da natureza humana, afinal somos curiosos. Também estamos numa fase de muita solidão e de tédio. Cada vez mais as pessoas passam tempo vendo celulares e conversando menos com quem está do lado. Trinta anos atrás as crianças tinham que usar a imaginação para brincar quando estivessem sem seus pais, agora apenas ligam o celular e procuram o que pode ter de interessante lá. E o mundo da Turma da Mônica fica cada vez mais distante. Não pensam mais em como se divertir com um guarda chuva, boinas ou caixas de papelão, como o Cascão fazia. Não há mais planos infalíveis, hoje o Cebolinha ia procurar um já pronto no Youtube. A Mônica não brincaria com um coelhinho de pelúcia, mas com a boneca do último filme de sucesso. E a Magali ia ser fã do Masterchef e não iria correr atrás dos vendedores de sorvete e cachorro quente, iria pedir um hot dog gourmet pela internet.
E por que os materiais de mais qualidade não fazem tanto sucesso como deveriam? Pressa. Geralmente o melhor disco não é o primeiro. Guns and Roses fez provavelmente o melhor primeiro disco de uma banda, porém o disco duplo que fizeram três anos depois foi melhor. Já o U2 levou sete anos para chegar ao seu melhor álbum. Num período em que se tem dificuldade em lembrar qual a música fez mais sucesso no carnaval desse ano, quem consegue esperar tanto tempo para ver qual banda evolui e quem vai considerar como novidade o novo disco deles? Se parece exagero, tanto o Youtube como o Netflix posuem o recurso de aumentar a velocidade de seus vídeos e o maior site de notícias do Brasil, a UOL, já fornece um resumo das notícias para quem não quer ler tudo. Então náo é sem sentido que pessoas explicando a Terra Plana tenham tanta visualizações, mas pessoas explicando a experiência que descobriu o raio da terra sejam ignorados. Fernando e Sorocaba já disseram que tem que fazer um disco novo a cada seis meses e tentar emplacar algum hit solto nesse intervalo para não serem esquecidos.
Como terraplanistas dizem que é a Terra. |
Por que tantas pessoas desvalorizam a ciênca, o raciocíonio e o conhecimento?
Quando se apresenta só e simplesmente o resultado final não se costuma valorizar como se chega até ele. Por exemplo, quantas pessoas quando veem um carro pensam no processo de fabricação deles, de onde vem a borracha, como é feito a gasolina ou como motores funcionam? A maioria só pensa em como dirigir ou que moças vão gostar dele. O processo hoje é ignorado.
Uma outra questão é a vontade de se sentir mais exclusivo e menos um na multidão. Dificilmente temos uma ideia que alguém não teve antes e a internet está cheia de ideias malucas. A Terra é plana para 7% dos brasileiros. Se acreditar nisso sou diferente e superior (ou não). A recompensa parece sempre estar no fim. Quanto foi o jogo é mais importante do que como foi o jogo. A ansiedade caminha para ser o mal do século, junto com sua consequente depressão. Afinal, agora é só mandar a mensagem e em segundos chega a resposta. Ou dois cliques e pronto. Não faltam estudos conectando os dois.
Caramba! Profundo mesmo. Gostei bastante. E essa é a verdade. Ver um livro de 200 páginas pra muitos é canseira hoje.
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